5 gays que marcaram a história




Por Marcel Verrumo

COLABORAÇÃO PARA A SUPERINTERESSANTE

Nem só por héteros foi escrita a História. Ao longo dos séculos, muitos heróis - e vilões - que mudaram os rumos da civilização foram gays. Alguns foram aceitos por seu tempo. Outros não tiveram a mesma sorte. Isso sem falar naqueles cuja orientação sexual nunca ficou clara.

Em algumas civilizações antigas, nem era preciso sair do armário - a homossexualidade era natural e fazia parte da sociedade. A condenação dos gays veio com a ascensão das religiões monoteístas. Em 533, o imperador cristão Justiniano assinou a primeira lei que proibia as práticas homossexuais. A pena pelo “crime” podia ser a morte. Nos séculos seguintes, a história da comunidade gay foi marcada por condenações, perseguições e assassinatos. Mas também por grandes feitos na política, na ciência e nas artes. Relembre 6 gays que, para o bem ou para o mal, mudaram a história.



1. Sócrates (470 a.C. – 399 a.C.)

Sócrates, um dos principais filósofos ocidentais, viveu na Grécia Antiga, onde era normal um homem mais velho manter relações sexuais com homens jovens. O tutor de Platão chegou a declarar que o sexo anal era sua melhor fonte de inspiração e que relações heterossexuais serviam apenas para procriação. Detalhe: Sócrates defendia a investigação e o diálogo para se chegar à verdade, método que deu origem à famosa DR que assombra casais. Será que, em algum momento, ele precisou ter uma DR porque sua “fonte de inspiração” havia secado?!



2. Alexandre, o Grande (356 a.C. – 323 a.C.)


A orientação sexual do guerreiro macedônio é assunto que já rendeu polêmicos estudos acadêmicos, livros e até filmes hollywoodianos. O historiador Plutarco conta que Alexandre se casou quatro vezes (com mulheres). No entanto, alguns historiadores, como Diodoro Sículo, afirmam que o guerreiro teria tido pelo menos um amante-homem, Heféstion. Aliás, quando Heféstion morreu, Alexandre teria ficado sem comer e beber por vários dias.



3. Leonardo da Vinci (1452 – 1519)


A versatilidade e o talento de Leonardo da Vinci nunca surtiu dúvidas: ele foi cientista, engenheiro, anatomista, botânico, inventor. E pintor, claro. Com base em registros históricos e em escritos pessoais, biógrafos de Da Vinci deduzem que o gênio teria sido homossexual. Leonardo passou, inclusive, por um tribunal após ser acusado de sodomia com um homem prostituto. A acusação não foi adiante, mas os boatos a respeito da sexualidade de Da Vinci permanecem até hoje.



4. Ernest Röhm (1887 – 1934)

Homossexual assumido, Röhm foi um dos braços-direito de Adolf Hitler e um dos responsáveis pelo crescimento do movimento nazista na Alemanha dos anos 1920-1930. Devido à sua orientação sexual, o oficial tinha muitos inimigos dentro do partido. O resultado da sua união com Hitler não poderia ser diferente. Quando o fürher percebeu que Ernest poderia lhe causar sérios problemas (tipo uma contradição histórica inexplicável), decidiu tirá-lo do seu caminho. Fez o mesmo que fazia com muitos dos homossexuais da época: matou.



5. Harvey Milk (1930 – 1978)

Harvey Milk, representante distrital de São Francisco, foi o primeiro gay assumido a vencer uma eleição nos Estados Unidos. Em uma sociedade conservadora da década de 1970, ele discursava em favor da liberdade e tentava dar esperança aos gays. Seu ativismo foi importante na luta gay: 11 meses após ser eleito, Milk conseguiu aprovar uma lei sobre os direitos dos homossexuais de São Francisco. Personalidade polêmica e visada por conservadores, o militante foi assassinado um anos após ser eleito. Para conferir a história do político, vale conferir “Milk - A Voz da Igualdade”, de Gus Van Sant.


http://super.abril.com.br/blogs/superlistas/5-gays-que-marcaram-a-historia/


Entre mortos e vivos





Agente funerário há mais de 30 anos nos EUA, Robert D. Webster é autor de um livro sobre o assunto e conta aqui essas e outras histórias inusitadas que acontecem em enterros.







Imagine um enterro em que o morto levou uma picape para a sepultura. Ou então um funeral em que o caixão continha uma coleção de revistas Playboy. O responsável por esses últimos desejos foi o americano Robert D. Webster. Agente funerário há mais de 30 anos nos EUA, Webster é autor de um livro sobre o assunto e conta aqui essas e outras histórias inusitadas que acontecem em enterros.

Por que você decidiu escrever um livro contando as suas histórias como agente funerário?

A minha ideia original era escrever um livro que pudesse ajudar as pessoas a economizar com as despesas de funeral. A nossa sociedade teme e nega a morte, assim, as pessoas acabam pagando mais caro por esse tipo de serviço, já que não querem se informar e pesquisar a respeito. Então decidi incluir algumas histórias que vivi ao longo dos anos para deixar o livro mais interessante. Baseado no sucesso da publicação, dá para concluir que as pessoas querem saber o que acontece com seus entes queridos depois da morte.

O título do livro (Does this mean you´ll see me naked?) é uma piada sobre o fato de os mortos ficarem pelados diante do agente funerário. De onde você tirou essa frase?

A ideia para o título do livro surgiu de uma amiga da minha esposa durante um velório. Ela me chamou num canto e disse que queria que eu cuidasse do seu funeral quando ela morresse, mas que antes gostaria de me perguntar uma coisa. Ela disse: "Você precisa me ver nua para fazer o seu trabalho?" Eu fiquei surpreso com o fato de que ela estava preocupada com isso, mas eu entendo que as mulheres são mais recatadas nesse aspecto do que nós, homens.

Quais são os pedidos mais comuns e qual deles foi o mais inusitado que você já atendeu?

Os pedidos mais comuns são de coisas como fotografias, joias, bijuterias e relógios. Mas eu também já tive de colocar muitos objetos inusitados, como tacos de golfe, espingardas, cervejas e outras bebidas e até mesmo uma enorme coleção de revistas Playboy.

Qual foi o desejo mais excêntrico a que você já atendeu em um funeral?

Uma vez eu conheci um senhor que, antes de morrer, disse que gostaria de ser enterrado com a sua amada picape. Primeiro eu achei que ele estava brincando, mas, quando eu o informei de todos os esforços e custos extras envolvidos para satisfazer o seu desejo - como uma sepultura maior, remover todos os fluidos do veículo e conduzir a picape até o cemitério -, ele se mostrou feliz em arcar com as despesas. Quando ele morreu, alguns anos mais tarde, nós preparamos a picape, o acomodamos no banco da frente e conduzimos o veículo até o cemitério em outro caminhão. A picape foi colocada na sepultura por um guindaste e, assim, ele teve seu desejo atendido.

Você está no ramo funerário há 30 anos. É possível perceber alguma mudança na maneira como as pessoas são enterradas?

Dez anos atrás, eu percebi que o público expressava um interesse menor por caixões caros, e os modelos mais baratos começaram a vender mais. A cremação aumentou dramaticamente também [mais barata do que um enterro]. Mas acho que isso tem a ver com a terrível situação financeira dos EUA.


EU, PAPAI E PAPAI



4 mitos sobre filhos de pais gays





O gays lutaram e conquistaram direitos iguais no casamento. O próximo passo é pensar em família e filhos. Mas o que acontece com crianças que são criadas por gays? A resposta: algumas coisas - mas nenhuma daquelas que você imaginava









Começo de ano é sempre igual na escola de Theodora: cada aluno se apresenta e mostra as fotos da família. Pode ser que a menina da primeira carteira seja filha de um engenheiro e uma arquiteta e o pai do menino de cabelos vermelhos chefie a cozinha de um restaurante. Theodora, naturalmente, vai contar sobre a escola de cabeleireiros dos pais. Dos dois pais - Vasco Pedro da Gama e Júnior de Carvalho, juntos há quase 20 anos. Theodora não hesita em explicar para os colegas: não mora com a mãe e tem dois pais gays. Ela passou 4 anos num orfanato, até 2006, quando uma juíza de Catanduva, interior de São Paulo, autorizou a adoção. Nos próximos meses, a família vai crescer: o casal espera a guarda de uma nova menina, de apenas alguns meses de idade.

Na outra metade do mundo, a história com pais gays da americana Dawn Stefanowicz foi diferente. Por toda a vida, Dawn conviveu com a visita dos vários namorados do pai. Ele recebia homens em casa, embora ainda morasse com a mãe de Dawn- o casal já não se relacionava. Ela segurou as pontas em silêncio durante a infância, adolescência e início da fase adulta. Mas depois dos 30 se rebelou contra a situação. "A decisão do meu pai de não gostar mais de mulheres mudou minha vida. Os namorados dele sempre o afastaram, e ele colocava o trabalho e os namorados acima de mim", diz.

Dawn e Theodora fazem parte de um novo tipo de família. Somente nos EUA, segundo estimativa da Escola de Direito da Universidade da Califórnia, 1 milhão de lésbicas, gays, bissexuais e transexuais criam atualmente cerca de 2 milhões de crianças. E cada vez mais casais gays optam por criar seus próprios filhos. Segundo o mesmo instituto, em 2009, 21.740 casais homossexuais adotaram crianças - quase o triplo do número de 2000. A estimativa é que cerca de 14 milhões de crianças, em todo o mundo, convivam com um dos pais gays. Por aqui, onde mais de 60 mil casais gays vivem numa união estável (reconhecida perante a lei apenas no ano passado), a história é mais recente. O caso de Theodora foi a primeira adoção por um casal gay. E isso não faz tanto tempo assim - só 6 anos.

É justamente por ser tão recente que o assunto gera dúvidas, preconceitos e medos. Quais as consequências na personalidade de uma criança se ela for criada por gays? A resposta dos estudos é bem clara: perto de zero. "As pesquisas mostram que a orientação sexual dos pais parece ter muito pouco a ver com com o desenvolvimento da criança ou com as habilidades de ser pai. Filhos de mães lésbicas ou pais gays se desenvolvem da mesma maneira que crianças de pais heterossexuais", explica Charlotte Patterson, professora de psiquiatria da Universidade da Virginia e uma das principais pesquisadoras sobre o tema há mais de 20 anos.

Como, então, explicar as queixas de Dawn e a vida tranquila de Theodora? "O desenvolvimento da criança não depende do tipo de família, mas do vínculo que esses pais e mães vão estabelecer entre eles e a criança. Afeto, carinho, regras: essas coisas são mais importantes para uma criança crescer saudável do que a orientação sexual dos pais", diz Mariana Farias, psicóloga e autora do livro Adoção por Homossexuais - A Família Homoparental Sob o Olhar da Psicologia Jurídica. Enquanto Theodora mantém uma relação próxima dos pais, com conversas abertas sobre sexualidade, Dawn não teve a mesma sorte. Para piorar, ela cresceu em um ambiente ríspido e promíscuo (o pai levava diferentes homens para casa e não lhe deu atenção durante os anos mais importantes de sua formação). Mesmo assim, sobram mitos em torno da criação de filhos por pais e mães gays. Veja aqui o que a ciência tem a dizer sobre eles.

Mito 1. "Os filhos serão gays!"

A lógica parece simples. Pais e mães gays só poderão ter filhos gays, afinal, eles vão crescer em um ambiente em que o padrão é o relacionamento homossexual, certo? Não necessariamente. (Se fosse assim, seria difícil, por exemplo, explicar como filhos gays podem nascer de casais héteros.) Um estudo da Universidade Cambridge comparou filhos de mães lésbicas com filhos de mães héteros e não encontrou nenhuma diferença significativa entre os dois grupos quanto à identificação como gays. Mas isso não quer dizer que não existam algumas diferenças. As famílias homoparentais vivem num ambiente mais aberto à diversidade - e, por consequência, muito mais tolerante caso algum filho queira sair do armário ou ter experiências homossexuais. "Se você cresce com dois pais do mesmo sexo e vê amor e carinho entre eles, você não vê nada de estranho nisso", conta Arlene Lev, professora da Universidade de Albany. Mas a influência para por aí. O National Longitudinal Lesbian Family Study é uma pesquisa que analisou 84 famílias com duas mães e as comparou a um grupo semelhante de héteros. Ainda entre as meninas de famílias gays, 15,4% já experimentaram sexo com outras garotas, contra 5% das outras. Já entre meninos, houve uma tendência contrária: 5,6% nos adolescentes criados por mães lésbicas tiveram experiências sexuais com parceiros do mesmo sexo - mas menos do que os que cresceram em famílias de héteros, que chegaram a 6,6%. Ou seja, não dá para afirmar que a orientação sexual dos pais tenha o poder de definir a dos filhos.


Mito 2. "Eles precisam da figura de um pai e de uma mãe"

Filhos de gays não são os únicos que crescem sem um dos pais. Durante a 2ª Guerra Mundial, estima-se que 183 mil crianças americanas perderam os pais. No Brasil, 17,4% das famílias são formadas por mulheres solteiras com filhos. Na verdade, os papéis masculino e feminino continuam presentes como referência mesmo que não seja nos pais. "É importante que a criança tenha contato com os dois sexos. Mas pode ser alguém significativo à criança, como uma avó. Ela vai escolher essa referência, mesmo que inconsciente-mente", explica Mariana Farias. Se há uma diferença, ela é positiva. "Crianças criadas por gays são menos influenciadas por brincadeiras estereotipadas como masculinas ou femininas", diz Arlene Lev. Uma pesquisa feita com 56 crianças de gays e 48 filhos de héteros apontou a maior probabilidade de meninas brincarem com armas ou caminhões. Brincam sem as amarras dos estereótipos e dos preconceitos.

Mito 3. "As crianças terão problemas psicológicos por causa do preconceito!"

Elas sofrerão preconceito. Mas não serão as únicas. No ambiente infantil, qualquer diferença - peso, altura, cor da pele - pode virar alvo de piadas. Não é certo, mas é comum. Uma pesquisa da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas com quase 19 mil pessoas mostrou que 99,3% dos estudantes brasileiros têm algum tipo de preconceito. Entre as ações de bullying, a maioria atinge alunos negros e pobres. Em seguida vêm os preconceitos contra homossexuais. No caso dos filhos de casais gays analisados pelo National Longitudinal Lesbian Family Study, quase metade relatou discriminação por causa da sexualidade das mães. Por vezes, foram excluídos de atividades ou ridicularizados. Vinte e oito por cento dos relatos envolviam colegas de classe, 22% incluíam professores e outros 21% vinham dos próprios familiares. Felizmente, isso não é sentença para uma vida infeliz. Pesquisas que comparam filhos de gays com filhos de héteros mostram que os dois grupos registram níveis semelhantes de autoestima, de relações com a vida e com as perspectivas para o futuro. Da mesma forma, os índices de depressão entre pessoas criadas por gays e por héteros não é diferente.

Mito 4. "Essas crianças correm risco de sofrer abusos sexuais!"

Esse mito é resquício da época em que a homossexualidade era considerada um distúrbio. Desde o século 19 até o início da década de 1970, os gays eram vistos como pervertidos, portadores de uma anomalia mental transmitida geneticamente. Foi só em 1973 que a Associação de Psiquiatria Americana retirou a homossexualidade da lista de doenças mentais. É pouquíssimo tempo para a história. O estigma de perversão, sustentado também por líderes religiosos, mantém a crença sobre o "perigo" que as crianças correm quando criadas por gays. Até hoje, as pesquisas ainda não encontraram nenhuma relação entre homossexualidade e abusos sexuais. Nenhum dos adolescentes do National Longitudinal Lesbian Family Study reportou abuso sexual ou físico. Outra pesquisa, realizada por três pediatras americanas, avaliou o caso de 269 crianças abusadas sexualmente. Apenas dois agressores eram homossexuais. A Associação de Psiquiatria Americana ainda esclarece: "Homens homossexuais não tendem a abusar mais sexualmente de crianças do que homens heterossexuais".

Dá para adotar no Brasil?

A lei de adoção brasileira deixa brechas para a adoção por gays sem fazer referência direta a esse tipo de família. Em 2009, quando houve mudanças na legislação, casais com união estável comprovada puderam entrar com pedido de adoção conjunta, sem o casamento civil. Em maio de 2011, o Supremo Tribunal Federal (STF) garantiu o reconhecimento de união estável entre pessoas do mesmo sexo, fazendo valer também a eles os direitos previstos para casais héteros. Apesar das conquistas, uma pesquisa do Ibope revelou que 55% dos brasileiros são contra a união estável e a adoção de crianças por casais homossexuais.

Para saber mais
Adoção por Homossexuais - A Família Homoparental sob o Olhar da Psicologia Jurídica
Mariana de Oliveira Farias e Ana Cláudia Bortolozzi, Juruá, 2009.



POLÊMICA


Felicidade em excesso pode fazer mal





Não há dúvida de que ser feliz é bom, mas em excesso pode ser um veneno. E, quanto mais procuramos a felicidade, menos somos felizes. Conheça o lado B da felicidade.







Ser feliz é uma das maiores preocupações de nossa sociedade hoje. Ela se manifesta na cultura popular, em livros de autoajuda, terapias e palestras de motivação. Não é para menos. Há fortes evidências sobre os benefícios de ter mais emoções positivas, menos emoções negativas e de estar satisfeito com a vida - os 3 pilares da felicidade. No entanto, essa história também tem dois lados. Se for vivida emexcesso, na hora errada e no lugar errado, a felicidade pode levar a resultados indesejados. E, inclusive, não ser saudável.

É o que indicam estudos recentes. Níveis moderados de emoções positivas favorecem a criatividade, mas níveis altos não. Crianças altamente alegres estão associadas com o maior risco de mortalidade na idade adulta por seu envolvimento em comportamentos arriscados. Isso porque uma pessoa muito feliz teria menos probabilidade de discernir as ameaças iminentes. Aqui, na Universidade de Yale, nos Estados Unidos, fizemos uma pesquisa com 20 mil participantes saudáveis de 16 países. E encontramos os maiores níveis de bem-estar naqueles que tinham uma relação moderada entre emoções positivas e negativas em sua vida diária. Também vimos que níveis moderados (não extremos) de sentimentos positivos estão ligados à redução de sintomas de depressão e ansiedade, além do aumento da satisfação pessoal.

Como você pode perceber, felicidade não é uma só. Ela vem em diferentes sabores. Varia, por exemplo, segundo a dimensão do estímulo (excitação x calma) ou do engajamento social (compaixão x orgulho). Certos tipos de felicidade são muito autofocados e, por isso, acabam sendo mal-adaptados. É o caso do orgulho, geralmente ligado às conquistas e ao status social. O orgulho pode ser bom em certos contextos, mas também tem sido associado à agressividade e ao risco de desenvolver transtornos de humor, como a mania.

A própria busca por ser feliz também pode ser contraproducente. Muitas vezes, aliás, quanto mais as pessoas procuram a felicidade, menos parecem capazes de obtê-la. A razão é simples: elas concentram tanta energia e expectativa nesse esforço que os eventos felizes, como festas e encontros com amigos, acabam sendo decepcionantes. Em adultos jovens e saudáveis, essa busca incessante pela felicidadetem sido ligada ao maior risco de mania e depressão.

O que fazer então? É impossível ser feliz o tempo todo ou em todo lugar. Não vale a pena nem tentar. Pense na situação em que você deseja (ou é mais relevante para você) ser feliz. E não se esqueça: não desmereça os sentimentos negativos. A tristeza, por exemplo, é parte da experiência humana e não necessariamente é ruim. Ela até nos ajuda a manter os pés no chão.

Tentar maximizar emoções positivas e minimizar as negativas, portanto, nem sempre é uma boa. O equilíbrio é fundamental.

* June Gruber é professora de psicologia na Universidade de Yale, nos EUA.
Ilustração: Tiago Lacerda


Gente bonita é mais malvada – e gente malvada ganha mais dinheiro




Dica de amigo pesquisador: repense o seu companheiro ideal. A gente gosta de pessoas bonitas, mas, apesar de serem agradáveis aos olhos e causarem orgulhinho na hora de andar de mãos dadas na rua, elas podem fazer da sua vida um inferno – porque, segundo um estudo das universidades de Edimburgo (Escócia), Barcelona e Madrid (Espanha), pessoas com rostos maissimétricos (que, estudos apontam, tendem a ser consideradas mais bonitas) são mais egoístase têm menos escrúpulos na hora de passar por cima dos outros para se darem bem. Em jogos propostos na fase de testes, voluntários tinham a opção de cooperar com os outros jogadores (e arriscar empates) ou passar a perna em todo mundo (e sair ganhando). E qual foi o resultado? “Como as pessoas com rostos simétricos tendem a ser mais saudáveis e atraentes, são também mais autosuficientes e menos dispostas a cooperar com os outros ou procurar a ajuda alheia”, explicam os pesquisadores. Basicamente, elas não precisam ser legais, porque conseguem o que querem sozinhas – ou então ganham as coisas de bandeja, por serem tão bonitas.

E tudo indica que elas, em geral, tendam mesmo a se dar muito bem — mesmo sendo chatas desse jeito. Em um outro estudo, das universidades de Notre Dame e Cornell (EUA) e Western Ontario (Canadá), os participantes do sexo masculino (que, apesar de não serem necessariamente bonitos, eram tão malas quanto os simétricos de que falamos há pouco) que cooperavam menos e eram menos queridos pelos colegas de trabalho ganhavam 18% maisdinheiro anualmente do que os bacanões do escritório. Entre as mulheres, a diferença foi mais modesta, mas ainda assim significativa: as chatonas ganhavam 5% mais por ano.

Será que, de tudo isso, dá pra concluir que gente bonita, além de ser bonita, ainda tem mais dinheiro, então? Opa, sendo assim, talvez até valha a pena aguentar o egoísmo.



Como fazer super bebês






Imunidade a doenças como câncer. Maior resistência à obesidade. Seleção de características estéticas. Tudo isso já pode, ou logo poderá, ser programado antes do início da gravidez. Conheça o admirável (e lindinho) futuro dos bebês.












Piada



Em 2009, um casal inglês deu à luz uma menina. A garotinha nasceu bonita e saudável. Mais do que o normal, na verdade. Foi a primeira criança a ser curada de uma doença letal antes mesmo de nascer. Naquela família, 3 gerações de mulheres já haviam desenvolvido câncer de mama. A chance de que a menininha também o tivesse era alta. Mas, num projeto pioneiro, os cientistas do University College Hospital de Londres analisaram o material genético dos pais da menina. Usando técnicas de fertilização in vitro, criaram 11 embriões. Desses 11, foram escolhidos 2 - que não possuíam o gene BRCA1, que, após uma mutação, pode ocasionar câncer de mama. Esses embriões foram implantados no útero da mãe. Um dos embriões vingou, se transformou em feto e, 9 meses depois, a garotinha vinha ao mundo: antes mesmo de nascer, protegida do câncer. Essa tecnologia futurista já é uma realidade. O procedimento, que se chama Diagnóstico Pré-Implantacional (DPI), permite escanear o DNA de embriões com poucos dias de vida retirando uma célula deles. Com o DPI, já é possível escolher o sexo do bebê e selecionar embriões livres de mais de 300 doenças e anormalidades genéticas. No futuro, ele também poderá ser usado para escolher a cor dos olhos e dos cabelos e várias outras características - gerando bebês potencialmente imunes a problemas como miopia e diabetes.


Muita gente vai fazer isso. Aliás, já está fazendo. Uma pesquisa da Universidade Johns Hopkins, nos EUA, estimou que, em 2006, quase metade das clínicas de DPI americanas já oferecia o serviço de escolha do sexo do bebê. Outro levantamento, da Universidade de Nova York, mostrou que 10% dos entrevistados fariam o procedimento para garantir "melhorias" como habilidade atlética, e 12%, inteligência superior no bebê. Já existe até um nome para essas crianças: são os "designer babies", ou bebês projetados.

Dez anos antes do nascimento da menininha inglesa, o cientista americano Francis Collins, então diretor do Instituto Nacional de Pesquisas sobre o Genoma Humano, previu que o DPI estaria disponível para a maior parte das pessoas em 30 anos. Quando isso acontecesse, os médicos seriam pressionados a criar seres humanos melhorados pela escolha de embriões. "Eu não me surpreenderia se, depois de começarmos a ter sucesso manipulando genes, começássemos a nos perguntar, como Stephen Hawking já se perguntou, se não devemos tomar o controle de nossa própria evolução e tentar melhorar o que somos", disse.

Mas, entre detectar doenças genéticas e criar um futuro campeão do esporte ou das olimpíadas de matemática, há um longo caminho, que passa por descobrir exatamente quais genes ou combinações genéticas determinam cada uma de nossas habilidades e traços físicos. O exame mais básico, hoje utilizado pela maior parte das clínicas, inclusive no Brasil, permite descobrir cerca de 7 tipos de má-formação genética, além do sexo do bebê. Para fazer o Diagnóstico Pré-implantacional, é preciso primeiro passar por todo o tratamento de fertilização, para criar embriões de proveta no laboratório. Cerca de 3 dias depois, quando o embrião já tem 8 células, os médicos retiram 1 delas para a análise. "A partir do terceiro dia, já é possível retirar uma célula sem prejudicar o [desenvolvimento do] bebê", explica o geneticista Ricardo Barini, da Unicamp.

Os cromossomos dessa célula passam por uma espécie de escaneamento, que vai determinar se o embrião é masculino ou feminino e se a quantidade de cromossomos é anormal (o que pode resultar em síndromes genéticas como Down). Nos EUA, o procedimento completo, incluindo a implantação do bebê no útero, pode chegar a custar US$ 20 mil. No Brasil, são R$ 2 500 por embrião escaneado, fora os outros custos do tratamento.

Depois de escaneados, os embriões são submetidos a uma seleção exatamente como aquela feita pelo cientista Gregor Mendel (o pai da genética, que você conheceu nas aulas de biologia) fazia com ervilhas. Os embriões que contêm características indesejadas são descartados (ou, no caso dos embriões humanos, doados para pesquisa). Aqueles que reúnem os traços desejados pelos pais são implantados no útero da mulher para nascer.

Receita de beleza
O grande problema dessa técnica é que ler todo o DNA de uma criatura, seja uma ervilha, seja um embrião humano, é bastante trabalhoso. "É preciso saber exatamente o que se está procurando porque mapear o genoma inteiro é muito caro", explica Barini. Por isso, a seleção genética só costuma ser usada quando há vários casos de doenças graves na família da criança. Mas uma nova descoberta promete revolucionar a seleção de embriões humanos - e abrir caminho para, no futuro, a erradicação de todas as doenças de base genética.

É uma técnica chamada karyomapping. Com ela, não é preciso saber o que se está procurando antes de começar. Os cientistas simplesmente comparam pedaços do genoma dos pais com o do embrião usando o microarray, um chip que contém milhares de dados sobre cada pedaço do DNA. Por causa disso, o diagnóstico levaria somente 3 dias, em vez de meses, e poderia detectar a presença de até 15 mil doenças genéticas ou anormalidades.

Isso é útil porque muitas doenças são determinadas não por um só gene, mas por um grande número de variações nas sequências do DNA. Com o chip, é possível comparar o DNA do embrião, parte por parte, com o dos pais e até o dos avós, para saber se a criança herdou dos dois lados alguma mutaçãogenética que a faça desenvolver uma doença grave. Teoricamente, essa mesma técnica também pode ser utilizada para descobrir a cor dos olhos, dos cabelos ou da pele de um bebê - que, até onde se sabe, também são determinadas por combinações genéticas. Em 2007, cientistas da empresa deCode, da Islândia, publicaram um estudo identificando as sequências genéticas que determinam os traços físicos de islandeses e holandeses.

O geneticista americano Jeff Steinberg, do Instituto de Fertilidade de Los Angeles, leu esse estudo e tomou uma decisão: iria permitir a seleção de características estéticas, como cor dos olhos e dos cabelos, nos bebês gerados em sua clínica.

O mundo científico tremeu. Seria o início de um "Admirável Mundo Novo", como previu Aldous Huxley? No livro de 1932, o escritor britânico descreveu um mundo em que os bebês humanos eram produzidos em um grande laboratório estatal. De acordo com as intervenções a que os embriões eram submetidos, as crianças eram, desde antes no nascimento, divididas em castas sociais.

A controvérsia foi tão grande que, poucos meses depois, Steinberg encerrou seu programa de seleção estética de bebês. Mas ele já havia soltado a pulga da eugenia atrás da orelha de pesquisadores e sociólogos, que começaram a pregar contra a manipulação genética para fins de beleza. Afinal, o que aconteceria com o mundo se sociedades inteiras passassem a preferir pessoas loiras ou de olhos castanhos? O que será do azul se todos realmente gostarem mais do amarelo?

A seleção de traços cosméticos e do sexo também precisa vencer as barreiras judiciais na maioria dos países, entre eles o Brasil. Aqui, só é permitido escolher um embrião para evitar "doença de prognóstico sombrio" - que pode matar -, como determinados tipos de câncer. Em se tratando de uma doença que só afete homens ou mulheres, a lei permite que os pais escolham o sexo do bebê.

Essas técnicas são baseadas em seleção, ou seja, os cientistas geram muitos embriões até que apareça um com as características desejadas. Isso significa que só é possível escolher traços físicos hereditários. Se ninguém da família tiver passado a você, ou a seu parceiro ou parceira, um gene (ou combinaçãogenética) para ter olhos verdes, esqueça. Até que os cientistas descubram como reescrever o DNA humano. Mas já existe gente tentando fazer isso.

X-babies
A história começa em 1998, quando o geneticista French Anderson, da Universidade do Sul da Califórnia, causou polêmica ao inserir o gene de um rato no embrião de um camundongo, o que fez com que ele crescesse o dobro do esperado para sua espécie. Quando o camundongo "gigante" nasceu, o gene alienígena estava em todas as suas células, inclusive nos gametas, o que quer dizer que seus filhos e netos também seriam gigantes. Isso sugeriu que, em tese, seria possível criar uma raça de humanos modificados. Anderson começou a fazer algumas experiências em pessoas, tentando curar doenças genéticas, até que o tratamento matou um paciente de 18 anos. A terapia genética caiu no ostracismo e só voltou a ganhar força nos últimos anos. No University College de Londres, médicos já avaliam a possibilidade de alterar o DNA de um embrião humano para curar doenças como a hemofilia. A técnica já foi testada, com sucesso, em ratos e ovelhas.

O código genético não é tudo, claro. A ciência está descobrindo que o que acontece durante a gestação é muito mais importante do que se pensava. Isso porque o funcionamento dos genes pode ser alterado pelas condições do ambiente, a começar pelo útero. Isso não é o mesmo que dizer que as coisas que a mãe come ou faz durante a gravidez mudam o DNA do filho, mas é quase. Os estudos mais recentes mostram que o período pré-natal é quando muitos genes que determinam a propensão a doenças ou habilidades são ligados ou desligados. Essa variação no funcionamento dos genes se chama epigenética. E funciona a todo vapor durante a gestação.

O feto incorpora elementos da dieta da mãe, toxinas no ar que ela respira e também é influenciado por suas emoções e seus sentimentos. Tudo isso pode ativar ou desativar genes durante o desenvolvimento do bebê. É um mecanismo de defesa, para que o organismo do feto se prepare para o mundo que ele irá encontrar quando nascer. Se a dieta da mãe é pobre, por exemplo, o bebê pode nascer mais propenso à obesidade - pois seu organismo fica geneticamente programado para reter calorias. Esse fenômeno foi observado pela primeira vez durante o estudo da chamada "fome holandesa". Entre 1944 e 1945, em plena Segunda Guerra Mundial, os nazistas interromperam o fluxo de alimentos para a Holanda, fazendo com que 4,5 milhões de pessoas ficassem sem comida. As mulheres que estavam grávidas e passaram fome deram à luz filhos mais propensos a vários problemas de base genética comprovada, incluindo obesidade e diabetes. Essas crianças nasceram com alterações epigenéticas e as transferiram para seus descendentes - que têm mais risco dessas doenças.

O funcionamento dos genes também pode ser alterado pelo tipo de alimento que a gestante come. Uma experiência feita com ratos na Universidade Duke, nos EUA, mostrou que um grupo químico chamado metil, encontrado em diversos alimentos, é capaz de alterar o funcionamento de determinados genes, que podem modificar características físicas e até proteger contra o câncer.

Os ratos aguti, que são gordos e possuem o pelo amarelado e predisposição a câncer e diabetes, têm suas principais características determinadas por um gene, chamado de gene aguti. No experimento, dois grupos de ratos foram alimentados de maneira diferente durante a gestação. Um deles tinha uma dieta normal. O outro, uma dieta mais rica em nutrientes que disponibilizam metil, como ácido fólico e vitamina B12. Quem teve isso nasceu radicalmente diferente. Além de serem mais magros e não terem a mesma predisposição a doenças, os ratinhos tinham o pelo marrom. Tudo graças à alimentação da mãe, que aparentemente conseguiu desativar o gene aguti.

A obesidade humana também pode ser desprogramada no útero, segundo indica um estudo realizado em 2006 nos EUA. Ele comprovou que filhos de mulheres obesas que haviam feito cirurgia de redução de estômago apresentavam 52% menos chances de serem obesos do que seus irmãos mais velhos, nascidos antes da operação da mãe. Ou seja: uma simples mudança nos hábitos alimentares da gestante (que passou a comer menos devido à cirurgia redução de estômago) foi suficiente para desencadear alterações epigenéticas positivas nos filhos.

Exercícios para o feto
Sabe aquelas grávidas que colocam fones de ouvido na barriga para que o feto escute música clássica, seja estimulado por ela e nasça mais inteligente? Isso não tem comprovação científica, ao menos até agora. Mas coisas mais simples, como exercícios físicos e até um pouco de estresse, realmente funcionam. Linda May, professora de anatomia na Universidade de Medicina de Kansas City, nos EUA, conduziu um estudo sobre os efeitos do exercício materno no feto, usando um aparelho que mede os campos magnéticos produzidos pela atividade elétrica do coração.

Os bebês das gestantes que faziam exercícios aeróbicos de intensidade moderada por pelo menos meia hora, 3 vezes por semana, já nasciam com o coração mais saudável que os filhos de mulher sedentárias. E as mulheres que se exercitam durante a gravidez tendem a ter filhos maiores - com cérebros igualmente maiores, o que pode ajudá-los a se tornar adultos mais inteligentes.

Tamanho do cérebro é mesmo documento de inteligência. É isso o que constatou um dos maiores estudos realizados com bebês: o estudo Avon, que é coordenado pela Universidade de Bristol e há 10 anos acompanha o nascimento e o crescimento de crianças. Em 2006, essa pesquisa descobriu que, quanto maior o crescimento do cérebro da criança até seu primeiro ano de vida, maior o seu QI.

Se exercícios moderados podem aumentar o cérebro, um pouco de stress pode dar a ele o estímulo necessário para funcionar melhor. Janet DiPietro, psicóloga da Universidade Johns Hopkins, diz que ansiedade e stress diário moderados durante a gravidez podem aumentar os níveis de desenvolvimento mental e motor do bebê. Tudo porque o cortisol, hormônio ligado ao stress, tem um papel importante para desenvolver vários órgãos do corpo.

Uma das pesquisas que DiPietro realizou sobre o tema, com 112 mães e filhos recém-nascidos, mostrou que os bebês de mulheres que apresentaram algum nível de stress eram mais eficientes, pois conduziam os impulsos nervosos mais rápido - evidência de um cérebro mais maduro.

Mas stress demais faz mal, claro. Inclusive o stress do parto. Analisando a quantidade de cortisol encontrada no cordão umbilical logo após o nascimento, cientistas do Imperial College London descobriram que o nível de estresse ao que o bebê é submetido varia conforme o tipo de parto. Os partos que utilizam fórceps (uma espécie de pegador) ou ventosas para retirar o bebê da barriga da mãe causam o maior nível de stress. As cesáreas, o menor. Já os partos normais ficam no meio-termo. Em outro estudo, os cientistas concluiram que, quanto maior o nível de stress dos bebês durante o parto, mais eles choravam em pequenas situações estressantes ao longo dos primeiros 2 meses de vida, como tomar uma injeção de vacina.

Mais som = mais educação
Seres humanos não são meras pilhas de genes e neurônios. Grande parte do que faz uma pessoa ser o que ela é vem de um fator ambiental importantíssimo, especialmente quando se é criança: a educação. E a ciência também está fazendo novas descobertas nesse quesito.

No Infancy Studies Laboratory, da Universidade Rutgers, nos EUA, April Benasich testa cerca de mil crianças e jovens há mais de 15 anos para entender melhor os mecanismos cerebrais de aprendizado dos bebês. Segundo ela, a chave está na maneira como o cérebro do recém-nascido percebe um som e o momento em que ele detecta mudanças na frequência e na duração daquele som. Quando isso acontece, a atividade elétrica cerebral sofre uma mudança abrupta. Medindo a velocidade dessa mudança, é possível estimar a aptidão da criança para aprender a falar e ler com fluência. Ou seja: uma espécie de teste de inteligência para bebês, que é medido diretamente no cérebro e revela eventuais dificuldades de aprendizado com uma precisão inédita.

Isso permite diagnosticar problemas muito antes do que é possível hoje e aproveitar que na primeira fase da infância o cérebro das crianças está em seu momento mais flexível. Como tratamento, a pesquisadora desenvolve um móbile digital, que é colocado no berço e estimula o cérebro dos bebês ao tocar sequências rápidas e variadas de sons.

Para ajudar o seu filho, talvez valha até ressuscitar o velho brinquedo Genius, aquele jogo da memória de luzes e sons. Esse tipo de jogo se mostrou mais eficiente que os DVDs do tipo Baby Einstein. Eles trazem imagens supostamente estimulantes para o bebê, mas não funcionam e podem até fazer mal: estudos americanos sugerem que podem retardar o desenvolvimento linguístico.

Outro joguinho eletrônico simples, desenvolvido pelo neurocientista Stanislas Dehaene, do Instituto Nacional de Saúde e Pesquisa Médica da França, pretende ajudar as crianças com a matemática, estimulando a capacidade inata que os bebês têm de reconhecer quantidades numéricas. Os neurocientistas comprovaram que humanos e animais como golfinhos, ratos, macacos e leões já nascem com um senso numérico básico, que, se não permite fazer contas, ao menos permite reconhecer qual é a maior pilha de bombons, por exemplo. Mesmo sem saber fazer operações matemáticas, os bebês conseguem estimar o tamanho de grupos de coisas.

Assim como no caso da linguagem, um pequeno defeito nessa habilidade desde o nascimento pode significar péssimas notas em matemática mais adiante. O nome dessa deficiência é discalculia (uma prima da dislexia) e, segundo Dehaene, ela também pode ser consertada nos primeiros anos de vida com a ajuda de um jogo em que a criança é recompensada se conseguir escolher a pilha maior de moedinhas de ouro antes do computador.

Se ouvir Mozart na barriga não fará com que a criança seja mais inteligente, tocar pode fazer com que ela, pelo menos, seja mais concentrada. A função executiva do cérebro, que engloba a capacidade de se manter atento, de reter o que aprendeu e de esperar pelos resultados do esforço, é a terceira das habilidades inatas que podem determinar se seremos bons alunos, de acordo com a neurociência.

Na Universidade Northwestern, a pesquisadora Nina Kraus descobriu que a prática de um instrumento musical pode ser a melhor maneira de estimular a função executiva das crianças. Ao fazer com que você aprenda a distinguir timbres, tempos e tons de composições musicais, o exercício melhora a atenção, a memória e o autocontrole. E ainda faz com que os alunos sejam bons ouvintes e consigam focar no professor em meio ao barulho da sala.

Os designer babies ainda parecem futurismo, mas basta olhar ao seu redor para enxergar os primeiros passos de um novo estágio evolutivo da raça humana, como Stephen Hawking profetizou. Mas pare e pense. Todo mundo quer o melhor para os próprios filhos, claro. Mas, se um dia realmente for possível criar uma sociedade feita de pessoas artificialmente mais inteligentes, mais bonitas, mais saudáveis e mais felizes, você aceitaria? A decisão é sua.

DOADOR PROJETADO
A escolha de embriões também pode gerar os chamados "irmãos salva-vidas". Isso é realidade desde o ano 2000, quando uma família americana selecionou geneticamente o embrião de seu próximo filho. O objetivo era gerar um doador de medula compatível com a irmã mais velha - que tinha anemia de Fanconi, uma doença letal. Desde então, a prática foi usada em 15 outros casos no Reino Unido, na Austrália e nos EUA.

A HORA DE NASCER
Um estudo da Universidade de Bristol constatou que as crianças nascidas no final do verão e no começo do outono são em média 1 cm maiores e têm ossos mais fortes do que os bebês nascidos em outros momentos do ano. Uma possível explicação é que as mães tenham sido expostas a mais raios solares. Eles são uma fonte de vitamina D, vital para a formação óssea.

A BOA BRINCADEIRA
Quanto mais rápido o cérebro do bebê detecta mudanças na frequência e na duração de sons, maior a probabilidade de que ele aprenda mais rápido a falar e a ler com fluência. Crianças com mais problemas em perceber os sons básicos da fala apresentam performance pior em testes de linguagem aos 8 ou 9 anos. Mas, para cientistas americanos, jogos educativos desde o berço podem compensar a deficiência.

ALIMENTOS PARA A CABEÇA

Chocolate
De preferência meio amargo, pode transformar o bebê em um adulto mais feliz, segundo um estudo feito pela Universidade de Helsinque. Mães que comiam chocolate todos os dias durante a gravidez tinham filhos que demonstravam menos medo e sorriam com mais frequência aos 6 meses de idade.

Brócolis
Fonte de acido fólico, que protege o cérebro do bebê contra malformações.

Rúcula
Rica em vitamina K e ômega-3, essenciais para o desenvolvimento mental.

Ovos
Fornecem colina, nutriente do complexo B ligado à produção de neurotransmissores.

Vieira
Molusco com muita vitamina E, que promove a coordenação motora em crianças de 6 meses a 8 anos.

Para saber mais
Origins - How the Nine Months Before Birth Shape the Rest of Our Lives
Annie Murphy Paul, Free Press, 2010.
Babies by Design - The Ethics of Genetic Choice
Ronald M. Green, Yale University Press, 2008.