Ciúme é normal até que ponto?


Como diferenciar o ciúme normal que apimenta a relação, vem e passa depressa, daquele que se torna doença e coloca o outro como foco da existência?

Um bom começo é analisar a si mesmo, a autoestima, o amor próprio, perceber o quanto esse sentimento maltrata a si mesmo e ao outro. Afinal, quando deixamos de viver a nossa vida para viver a vida do outro, quando não conseguimos mais nos enxergar, quando só o que conta é o controle, o outro, talvez, seja melhor pesquisar a fundo e pensar em uma forma mais saudável de vida que passe pelo resgate do Ser.

O ciúme doentio, afinal, mata: um e outro. Acaba com a vida, a relação, o bom senso. Manchetes nos jornais não faltam. Há uma lista enorme de vítimas do ciúmes por todo o Brasil. O crime passional é ainda uma constante na mídia. Jovens, maduros, casados, solteiros, namorados, bonitos, feios, com filhos, sem filhos, não há regra. Quando o ciúme doentio chega e se instala: problemas à vista.

A questão é que esse tipo de crime tem aviso prévio. O "ciumento" informa. Ameaça, deixa claro o que vai fazer. Em alguns casos, ao longo do relacionamento, dá mostras do que é capaz. Agressão física, desrespeito, gritos e todo tipo de invasão de privacidade. Até no BBB assistimos a cenas desse tipo, ou seja, parece normal achar-se no direito de agredir o outro, desrespeitá-lo à medida que não acredita na sua versão das coisas.

É como se o ciumento vivesse num delírio, numa tragédia grega.

Com o advento da Internet parece que fica tudo mais doente. Queremos estar onde o outro está, queremos ter a certeza do que vai em sua cabeça, coração, corpo e teclado. Queremos ser ele — seja no mundo virtual ou no mundo real.

E o que fazer para evitar isso tudo? Recebo inúmeros e-mails que trazem essa questão. Jovens recém casados, noivos, namorados, casais mais velhos, todos; parece mesmo que todos têm seus dias de "loucura".

Agora a pergunta que não quer calar é — o que causa o ciúme doentio? Qual a origem? Há cura? Por que nos sentimos assim? O que é esse sentimento de posse que nos consome? O que nos faz assim destemperados, desequilibrados, furiosos?

Vamos por partes. É claro que tudo tem origem na infância. Nas percepções da criança. Nas nossas crenças errôneas que nos fazem acreditar que não temos importância, não temos valor. Nas decisões, consequentes, que nos fazem escolher viver na desconfiança, no medo, na ilusão, distantes do Ser...

São essas escolhas que nos levam a auto-anulação. Logo, se não existimos, só o que conta é o outro. Tornamo-nos dependentes até para respirar. Sem o outro, não estamos completos. Não somos ninguém.

Resultado: sentimento de posse, necessidade de aprisionar o outro, controle, desrespeito, mais insegurança, etc.. Para o ciumento é insuportável qualquer possibilidade de perda, de abandono, de rejeição, etc. E essa é uma sensação tão intensa que representa a morte.

E ao viver nessa realidade relativa, desconfiamos, seguimos, pressionamos, enlouquecemos por qualquer oportunidade de rompimento. Logo, se não para nós, para ninguém...

O pior é saber que, na maioria dos casos, o ciumento não tem motivos para julgar e condenar o parceiro, culpado. Até porque há situações que não são verdadeiras, o outro não trai — como em "Otelo" de Shakespeare. Há ainda situações em que o parceiro decide pela separação. Não aguenta a pressão. Ele coloca um ponto, mas, infelizmente, essa tentativa de afastamento gera mais ameaças, mais violência.

Bem, se não temos o direito de acabar com a nossa vida ou com a vida do outro, só o que nos resta é assumir que temos um problema e buscar tratamento. Podemos sempre escolher terapia, análise, grupos de autoajuda, autoconhecimento. Esse é o único caminho de volta para uma vida de escolhas saudáveis com relações também saudáveis.

Fica aqui o convite. Se você conhece alguém que vive esse problema, convide-o a buscar ajuda, resgatar sua autoestima, espiritualizar-se.

Não é fácil mudar, não é fácil abrir mão do controle, não é fácil abrir mão do outro, deixá-lo livre, uma vez que não compreendemos o grau da nossa dependência. Mas, essa é a única saída para salvar-se e, quem sabe, salvar o que restou da relação.

Por isso, reforço o convite. Não se deixe morrer. Não se deixe abandonar por um padrão de comportamento que tanto mal faz.

A vida passa depressa demais, para que possamos desperdiçá-la com qualquer equívoco desse tipo. Esteja você certo ou não, o outro errado ou não, nada, nada justifica o perder-se de si mesmo para "tentar" viver a vida do outro. Nada, nada justifica escolher qualquer coisa ou pessoa, além do Ser. Nada, nada justifica, manter-se aprisionado ou aprisionar o outro. Nada.

Pense nisso e faça sua escolha. Fique com Deus.

Sandra Maia é autora dos livros Eu Faço Tudo por Você — Histórias e Relacionamentos Codependentes, Você Está Disponível? Um Caminho para o Amor Pleno e Coisas do Amor.

Mais informações sobre a autora no www.sandramaia.com

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