Primavera, época de alergias sazonais


por: Sofia Filipe, em colaboração com a Dr.ª Ângela Gaspar, Imunoalergologista, Secretária-Geral da SPAIC

A manifestação de alguns sintomas, num determinado período do ano, caracteriza as chamadas alergias sazonais. Este termo é, muitas vezes, usado como sinónimo de alergia a pólenes, também denominada polinose, ou, mais vulgarmente, febre dos fenos.
A manifestação de alguns sintomas, num determinado período do ano, caracteriza as chamadas alergias sazonais. Este termo é, muitas vezes, usado como sinónimo de alergia a pólenes, também denominada polinose, ou, mais vulgarmente, febre dos fenos. Quanto aos alergénios como os ácaros do pó, são responsáveis por alergias perenes, ou seja, que ocorrem durante todo o ano.

Apesar de haver pólenes no ar atmosférico durante todo o ano, é na Primavera que as concentrações são mais elevadas. Mas, quer nesta estação como no Verão, surgem outros agentes que causam reacções alérgicas. Algumas são muito graves, podendo ser fatais, mas a frequência é diminuta. Serve de exemplo a alergia a veneno de insectos.

«Quando ocorre uma reacção grave à picada de abelha ou vespa, é uma situação de emergência médica, tendo estes doentes indicação para terem consigo um kit para auto-administração de adrenalina», menciona a Dr.ª Ângela Gaspar, Imunoalergologista, ressalvando: «A manifestação mais frequente à picada de insectos, como mosquitos e melgas, é uma reacção limitada à pele, correspondendo a lesões vesiculares muito pruriginosas (comichão) denominadas estrófulo.»

É ainda no decorrer da época estival, em que as elevadas temperaturas e as mudanças de ambiente e hábitos, muitas vezes dependentes do período de férias, condicionam o aparecimento de urticárias físicas, como a urticária solar. Estes doentes devem usar filtros solares de alta protecção e tomar anti-histamínicos.

Porquê na Primavera?

A alergia a pólenes é a forma mais frequente de alergia sazonal. Mas, por que razão ocorre tipicamente na Primavera?

A Dr.ª Ângela Gaspar responde que «em Portugal, assim como em outros países da Europa mediterrânica, a principal causa de alergia a pólenes são as gramíneas (fenos). Estas são muito frequentes e polinizam em plena Primavera, atingindo o seu pico máximo habitualmente durante os meses de Maio e Junho».
As reacções à erva parietária (alfavaca de cobra) também são frequentes no nosso País. O período de polinização costuma ser mais alargado, ocorrendo sintomas durante toda a Primavera e início do Verão.
No que diz respeito aos pólenes de árvores, a oliveira é a principal causa de alergia entre as árvores, em Portugal, sendo o seu período de polinização na Primavera.

«As concentrações dos pólenes existentes no ar dependem da época de polinização, que é específica para cada planta, coincidindo para a maioria das plantas com a Primavera, pois dá-se uma subida da temperatura», sublinha a mesma imunoalergologista, acrescentando: «De ano para ano, podem existir variações, na época polínica principal, em relação à altura do ano em que ocorre o pico de maior intensidade, e em relação às concentrações observadas.»

«A explicação», remata, «reside na influência de variáveis meteorológicas: a ocorrência de chuva (previamente à época polínica) condiciona fortes concentrações de pólenes quando a precipitação se interrompe, com os dias quentes e ventosos de Primavera; pelo contrário, um ano seco, condiciona uma vaga polínica menos intensa, em particular das plantas mais sensíveis à falta de água, como as gramíneas».

Perfil dos indivíduos

Os sintomas ocorrem na época de maior concentração dos pólenes, sendo desencadeados, em especial, no exterior dos edifícios, sobretudo com tempo quente, seco e ventoso.

Segundo a Dr.ª Ângela Gaspar, «a sintomatologia pode alterar muito a qualidade de vida do doente alérgico. A alergia a pólenes é uma causa frequente de manifestações alérgicas, que podem ser do aparelho respiratório (asma e rinite), dos olhos (conjuntivite) ou da pele (urticária e eczema)».

A rinite alérgica é a manifestação mais frequente. Pode atingir até 1/3 da população portuguesa e é caracterizada pela ocorrência de espirros, pelo nariz entupido, pela comichão e o pingo no nariz. Estes sintomas podem ser acompanhados por conjuntivite alérgica (olho vermelho, lacrimejo, comichão e inchaço).

Além da rinite, são igualmente frequentes a asma – dificuldade em respirar, pieira, cansaço fácil e tosse –, a urticária e o eczema – sintomas alérgicos da pele. «Em muitos casos, vários destes sintomas acontecem em simultâneo. De igual modo, com frequência as mesmas queixas eram já habitualmente sentidas pelos pais, irmãos, avós ou tios, traduzindo o carácter familiar da doença alérgica», menciona a especialista, concluindo:

«A confirmação do diagnóstico e identificação do tipo de pólen a que é alérgico, deverá ser efectuada por médico especialista em Imunoalergologia, conjugando-se a história clínica, com a realização de testes cutâneos de alergia ou métodos de diagnóstico laboratoriais.»


Medidas preventivas para os doentes alérgicos a pólenes

A Dr.ª Ângela Gaspar indicou algumas formas de prevenir as crises alérgicas causadas pelos pólenes. Anote:

1 - Consulte o Boletim Polínico
Encontra-se disponível todo o ano no site oficial da SPAIC, Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica (www.spaic.pt ) e na Primavera também em alguns meios de comunicação social, para saber as concentrações dos pólenes no ar ambiente (baixas/moderadas/elevadas).

2 - Programe as suas férias
Para evitar o contacto com um pólen específico a que seja alérgico, programe as suas férias elegendo locais de baixas contagens polínicas (ex. neve, praia). Poderá saber a altura de polinização máxima pela consulta do Boletim Polínico.

3 - Evite realizar actividades ao ar livre
Evite realizar actividades ao ar livre quando as concentrações polínicas forem elevadas. Passeios no jardim, cortar a relva, campismo ou a prática de desporto na rua, irão aumentar a exposição aos pólenes e o risco para as alergias.

4 - Mantenha as janelas fechadas
Use filtros de partículas de grande eficácia nos carros e viaje com as janelas fechadas. Os motociclistas deverão usar capacete integral. Em casa deverá manter as janelas fechadas quando as concentrações dos pólenes forem elevadas.

5 - Use óculos escuros
Uma forma de minimizar queixas oculares é a utilização de óculos escuros sempre que sair à rua.

6 - Faça a medicação prescrita:
A medicação será a forma mais eficaz de combater os sintomas da alergia a pólenes. Consulte um médico especialista de Imunoalergologia para o diagnóstico correcto e prescrição do tratamento adequado. A prevenção poderá passar pela realização de vacinas anti-alérgicas.


Medidas preventivas para os doentes com alergia à picada de insectos

«Existem várias medidas que os doentes alérgicos ao veneno de insectos podem tomar durante a Primavera e Verão e que permitem minimizar a exposição a insectos, tais como abelhas, vespas ou mosquitos», menciona a Dr.ª Ângela Gaspar.

Aponte, pois, as medidas preventivas indicadas por esta especialista:

  • Evitar locais onde estes insectos costumam estar: jardins com flores, árvores de fruto, troncos caídos (onde as vespas costumam construir os ninhos);
  • Evitar perfumes ou cosméticos com cheiros activos; evitar o uso de roupa larga com cores claras ou com padrões florais;
  • Evitar beber e comer doces e frutas ao ar livre; evitar caixotes e contentores de lixo;
  • Conduzir veículos com as janelas fechadas; usar capacete, luvas e manter o corpo o mais coberto possível quando andar de bicicleta ou moto;
  • Nunca andar descalço especialmente em relvados;
  • Ter muito cuidado ao fazer ginástica/ exercício ao ar livre, porque o suor atrai estes insectos;
  • Andar sempre com o seu kit/estojo de emergência, não o deixar no carro ou em casa. Os doentes com reacções graves à picada de insectos têm indicação para ter sempre consigo um kit para auto-administração de adrenalina, pelo que devem saber utilizá-lo, bem como os seus familiares e amigos para que o possam auxiliar, caso seja necessário. Estes doentes deverão ser observados por um especialista de Imunoalergologia, que avaliará a indicação para efectuar vacina anti-alérgica em ambiente hospitalar. Este tipo de tratamento é altamente eficaz nos doentes alérgicos à picada de vespa e de abelha.

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