O limite ético do matar e do morrer
Róger Bonow Mendes
médico
E interessante a conjugação de assuntos deste momento. Enquanto nos Estados Unidos discute-se se uma pessoa com vida vegetativa pode morrer (Terri), retirando-se a aparelhagem que a mantém viva (eutanásia passiva), vejo no mundo milhões de pessoas que morrem (os mais rigorosos tem ate um mortímetro de plantão contando quantas mortes por minuto acontecem) por falta de assistência. Fome. Falta de saneamento básico. Guerras sem fim. E as que vão começar ainda... Mas, não vamos nos distanciar do ponto. E no Brasil, pós FOME ZERO? Já pararam pra avaliar? E a assistência à saúde. Seria possível imaginar que de um momento para o outro se descobriu que no Rio de Janeiro a assistência médica digna está ruim? E nos outros estados, está boa? Não conheço grande cidade brasileira em que as queixas habituais de falta de segurança não se conjuguem com a falta de assistência à saúde. E há muito tempo. Denúncias não faltaram e não faltam. A intervenção no Rio está mostrando o descaso de anos e anos que se tem para com a saúde. Vejam. Faz-se uma campanha para controle de diabetes, hipertensão arterial, doença renal, câncer, etc. Um monte de gente, que nunca foi ao médico, começa a se ligar. Participa da campanha. Tem diagnóstico ou suspeita diagnóstica. Os hospitais que, sem aporte, já tinham dificuldades de atendimento, se defrontam com uma nova população de, agora pacientes, que necessitam encaminhamento, tratamento, exames mais sofisticados, internações, cirurgias, eletivas ou não enfim exercerem seu direito ao tratamento. Refiro-me aos carentes, aos pobres, àqueles que sem condições, amanhecem nas filas dos hospitais públicos. Não esquecendo que o empobrecimento da população e o desemprego vem aumentando e o preço dos planos de saúde pela hora da morte, e os pacientes estão indo para os hospitais públicos. É um outro contingente, que tem que ser considerado. Mas sim, estávamos falando de eutanásia passiva. De uma paciente nos Estados Unidos. Será que a omissão dos governos, a irresponsabilidade por falta de estrutura, de planejamento, de verbas para saúde no Brasil, não é uma forma de eutanásia passiva?

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