Porque a dimensão humana e subjetiva que está na base de toda intervenção em saúde, das mais simples às mais complexas, tem enorme influência na eficácia dos serviços prestados pelos hospitais. Várias pesquisas apontam que a qualidade do contato humano é um dos pontos críticos do sistema hospitalar público brasileiro.

É necessário mudar a forma como os hospitais se posicionam frente ao seu principal objeto de trabalho - a vida, o sofrimento e a dor de um indivíduo fragilizado pela doença - sem o que, valerão menos os esforços para o aperfeiçoamento gerencial, financeiro e tecnológico das organizações de saúde.

São muitos os avanços verificados na assistência hospitalar pública nos últimos anos. Investimentos para a melhoria da gestão, para a compra de equipamentos e tecnologias.

Mas isto é o que a História nos ensina: a mais formidável tecnologia, sem ética, sem delicadeza, não produz bem-estar. Muitas vezes, desertifica o homem.

Para cuidar desta dimensão fundamental do atendimento à saúde, foi criado o Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH).

Este programa traz um conjunto de medidas, de ampla envergadura, que apontam para uma profunda mudança no modo de se fazer a assistência nos hospitais públicos do Brasil.

Sua implantação será resultado do esforço integrado do Ministério da Saúde, Secretarias estaduais e municipais e entidades da sociedade civil; exigirá a participação de gestores, profissionais de saúde e comunidade.

Inicialmente, serão contemplados noventa e quatro hospitais da rede pública. Ao final de 2002, o Programa atingirá um conjunto de cerca de quatrocentos e cinqüenta hospitais.

Sua metodologia terá, no trabalho em rede e no regime de responsabilidades compartilhadas, dois poderosos instrumentos para difundir e multiplicar as experiências positivas por todo o Brasil.

Os benefícios concretos virão para todos que dele participam: usuários, trabalhadores de saúde e gestores do sistema hospitalar.

Para o usuário, a oferta de um tratamento digno, solidário e acolhedor por parte dos que o atendem não é apenas direito, mas etapa fundamental na conquista da cidadania.

Para o profissional dos hospitais, a oportunidade de resgatar o verdadeiro sentido de sua prática, sentido e valor de se trabalhar numa organização de saúde. Como todo trabalho, este é produzido por sujeitos e produtor de subjetividade. Não há humanização da assistência sem cuidar da realização pessoal e profissional dos que a fazem. Não há humanização sem um projeto coletivo em que toda a organização se reconheça e, nele, se revalorize.

Com o Programa de Humanização, ganha o Sistema Único de Saúde, ganha a sociedade brasileira, ganha a cidadania.

Mas não esperemos soluções mágicas, nem atalhos fáceis nesta caminhada.

A mudança de modelo assistencial é um processo gradual e complexo.

Na construção do "hospital humanizado", haveremos de agir como o artesão que toma a matéria em suas mãos para moldar as formas nascentes do que deve ser criado. Do que será, no futuro.

Assim como ele, é preciso transitar, obstinadamente, de uma forma a outra. Trocar velhos paradigmas por novos hábitos; exercer a criatividade, a reflexão coletiva, o agir comunicativo, a participação democrática na busca de soluções que sejam úteis para cada realidade singular. É preciso aproveitar os projetos de humanização já existentes nos hospitais e soerguer o desejo, que também existe, de transformá-los em organizações mais dinâmicas, harmônicas e solidárias.

Há um século atrás, o filósofo escrevia que não podemos hesitar quando chega o tempo de plantar as sementes de nossas mais altas esperanças.

O Ministério da Saúde convida todos a semear mais esta esperança.

Lúcida esperança, necessária, plenamente realizável:

A de que o hospital público de qualidade, no alvorecer do século XXI, seja, sobretudo, um hospital humanizado.


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