ESTRESSE


COMO CONVIVER COM ESTE INIMIGO DO SÉCULO

Conflitos internos, situações fora do comum, acontecimentos imprevisíveis, perdas, frustrações. Estes são alguns dos detonadores da tensão nervosa e da ansiedade. Os especialistas identificaram as circunstâncias conflitivas que desencadeiam o estresse e explicam o que é preciso fazer e pensar para desativá-las.



Quase todos os acontecimentos e situações podem provocar estresse, dependendo de cada pessoa. Mas os especialistas identificaram as principais circunstâncias que desencadeiam diversos graus de estresse em um ou outro momento da vida. Em geral, estas situações são marcadas por dois fatores: a pessoa percebe esses eventos como uma ameaça e deixa de sentir que domina e controla a situação.

Cada situação, tem sua solução. A psicóloga clínica Laura García Agustín, diretora do Centro Clavesalud, de Madri, explica o que é preciso fazer e pensar para prevenir, aliviar e combater o estresse diante de dez realidades freqüentes, baseadas em casos de pacientes (cujos nomes foram mudados) atendidos em seu consultório.


1. Situações opostas, nervos seguros


Um problema real. Inês vive sozinha e Rocío com sua família, mas ambas dividem uma realidade cada vez mais comum, sobretudo entre as mulheres: trabalham dentro e fora de casa. À cansativa jornada de trabalho no escritório se somam muitas horas de atividades domésticas, que esgotam sua energia e nervos, as consomem e as deixam sem tempo para suas necessidades. Uma solução eficaz. É preciso ser organizado para conviver com as duas situações sem ter agonia. Se a pessoa vive só, deve organizar seus horários e afazeres. Não podemos fazer tudo ao mesmo tempo, por isso é importante planejar e também estabelecer prioridades, para determinar o que é importante e o que pode ser feito mais tarde ou em outro dia. Se as as coisas forem bem organizadas há tempo para tudo. Quando se vive junto ou se tem uma família é preciso distribuir as tarefas da casa e assegurar seu cumprimento, para que cada membro saiba quais são suas responsabilidades. A negociação e a divisão das tarefas domésticas relaxam muito, já que as pessoas têm um número certo de obrigações a cumprir. Se tudo recai sobre uma pessoa, parece que as tarefas nunca se acabam.


2. Conflitos internos, a origem da ansiedade


Problema autêntico. Ernesto trabalha para uma empresa de cuja atuação descorda, porque não a considera ética. Costuma sentir inquietação e um grande mal-estar com o fato de ter que enfrentar a situação estressante de ir trabalhar e também com o conflito que vive a todo instante entre o que quer e o que faz. Uma solução real. Quem trabalha para uma empresa com a qual está em desacordo deve avaliar se a questão é tão grave e prejudicial. Se estamos em absoluto desacordo com a empresa e o trabalho não nos é interessante, é recomendável mudar de emprego, já que o benefício vai ser muito maior a longo prazo. Se estamos em total desacordo com a política da companhia mas precisamos do trabalho, é preciso elaborar uma estratégia, como procurar um outro emprego para uma posterior troca. No entanto, enquanto isso, é importante mantermos uma atitude correta no trabalho e com nós mesmos. Passar o tempo da melhor forma possível, tentando minimizar a importância dos assuntos relacionados ao trabalho. Se só estamos em desacordo com alguns pontos da empresa, é preciso aproximar posturas ou implantar algumas mudanças em nosso trabalho. Não é conveniente dramatizar nem exagerar a situação, mas pensar soluções e alternativas.


3. Eventos inesperados: medo do desconhecido


Os fatos. Sandra conseguiu um novo emprego e não conhece seus colegas nem o estilo da nova empresa. Carlos se mudou para uma nova cidade para estudar e também não conhece pessoas, lugares nem costumes. Nem Sandra nem Carlos sabem o que esperar de sua nova realidade, que se apresenta para eles repleta de ameaças. Estão inquietos, porque agora estão em um ambiente que não conhecem e temem não poder controlar a nova situação. Atuação. O melhor é não antecipar nada: o que tiver que ser, será. Se tantarmos prever o que irá acontecer, nos preocuparemos em excesso, sentiremos angústia e estaremos ansiosos por algo que não sabemos se irá mesmo ocorrer. Em vez de ter idéias preconcebidas, é preferível nos mostrarmos abertos a novas opções e oportunidades. Quando vamos para um novo lugar com uma atitude positiva encontramos muito mais coisas boas do que se chegássemos com idéias distorcidas da realidade e que fazem com que adotemos uma conduta sem critério. Além disso, as coisas nunca costumam acontecer como nós imaginamos.


4. Acontecimentos imprevisíveis, para que se preocupar?


O caso. Ester sempre se preocupa com a possibilidade de certas coisas acontecerem. Só as razões de sua ansiedade é que mudam: acontecimentos imprevisíveis como o resultado de exames, uma possível avaliação ou a "não descartável" absorção de nossa empresa por outra companhia. Todas estas são situações ante as quais ela se sente incapaz de fazer algo, e que, se ainda não se concretizaram, trazem uma ameaçadora sombra sobre o presente. Proposta de solução. Já que é um fato que ainda não ocorreu, convém não antecipar nada. Não adianta nada pensarmos que tudo se sairá bem, porque não sabemos. Mas também não é válido pensar negativamente, porque, do mesmo modo, não sabemos o que vai acontecer. O melhor é pensar que o que tiver que ser, será. Quando antecipamos as coisas, costumamos exagerar e engrandecer os erros, que talvez não venham a ser tão grandes nem graves.


5. Perdas diferentes, efeitos similares


O dilema. Francisco se separou de sua mulher. Pilar ficou sem trabalho. Ambas as perdas causam uma grande tensão emocional e têm algo em comum: são situações irrecuperáveis, que não têm solução, após as quais não é possível voltarmos atrás. Um remédio. O melhor é aceitar o fato o mais rápido possível. Memso as piores coisas que nos acontecem deixam de ser tão ruins quando as aceitamos. Convém continuarmos, na medida do possível, com nossas atividades, restabelecer a ordem de nossa vida e ocupar-nos em novas atividades, para assim manter-nos ocupados e dirigirmos nossa atenção a outras coisas. É preciso buscar apoio nos amigos e na família. Remoermo-nos e lamentarmos por algo que não tem solução só fará nos sentirmos pior. Por outro lado, pensar no que faremos, planejar novas coisas, metas e ocupações, e esquecer o mais rápido possível o ocorrido nos ajudará muito. Se nos propormos a viver um dia sem preocupações, ocupados, concentrados no que temos que fazer, sem pensar no ocorrido, esquecendo o que não podemos solucionar, viveremos também o dia seguinte e o próximo, até nos darmos conta de que tudo acabou e o sofrimento se foi.


6. Frustrações: querer e não poder


Dados reais. Enrique sofreu duas situações, distintas mas com o mesmo resultado: falhou em seus objetivos. Após anos de esforço, horas extras e tudo o possível para conquistar um posto melhor em sua empresa, não recebeu a promoção que considerava merecida. Em outra ocasião, após sair de sua casa "com tempo de sobra para chegar" a uma reunião decisiva, ficou preso num engarrafamento de trânsito e faltou ao compromisso. Uma sugestão viável. Num engarrafamento não adianta ficarmos irritado. No entanto, podemos aproveitar o momento em algo produtivo e agradável, como ouvir rádio, dar um telefonema pendente, apreciar a paisagem, relaxar ou conversar com o carona. Por mais que fiquemos nervosos, não vamos mudar a situação. Também é preciso buscarmos alternativas, como deixar o carro onde estivermos e apanhá-lo mais tarde. Se vamos perder uma reunião, é bom telefonar para avisar que não iremos ou adiá-la. Se esquecermos do compromisso, sempre podemos ligar para pedir desculpas e voltar a agendá-lo. No caso da promoção, é útil pensar na razão pela qual ela não foi obtida e avaliar em que medida a decisão depende de nossa atuação ou de outros motivos. É bom tentar identificar o que impede nossa ascensão para solucionarmos o problema. Se isso não depender de nós, podemos pensar numa maneira de discutir o assunto com o nosso chefe, para tentar identificar os motivos e escolher a melhor estratégia a seguir.


7. Incerteza: a ameaça de Dâmocles


Um conflito autêntico. A empresa de Lucas se viu envolvida em uma onda de demissões, que afetaram empregados de várias categorias. Como o lendário Dâmocles, que tinha uma espada sobre sua cabeça, a probabilidade de ser demitido fez com que Lucas sofresse durante semanas grandes doses de estresse e ansiedade. Alternativas. Quando a incerteza é grande é preciso mentalizarmos que o que tiver queser, será. Assim, se a situação se concretizar saberemos que decisão tomar para enfrentá-la ou solucioná-la. A preocupação só aumenta a angústia e nossa sensação de impotência. Muitas vezes a melhor estratégia é não fazer nada, esperar e pensar alternativas para atenuar o impacto que algo pode vir a ter, evitando inconvenientes precipitados. Aceitar que certo nível de incerteza faz parte de nossa vida é a melhor opção para nos adaptarmos às coisas que nos ocorrem. Se observássemos a quantidade de coisas que nos ocorrem sem que tenham sido previstas, nos surpreenderíamos do que somos capazes de suportar diariamente e deixaríamos de nos preocupar.


8. A pressão do tempo: depressa, depressa!

A questão. Luisa tenta fazer cada vez mais coisas em menos tempo. Em casa, no escritório e na rua. Não distingue se a urgência é uma necessidade ou um hábito. É o vertiginoso estilo de vida moderno, um dos principais responsáveis pela tensão nervosa. Não sabe para onde vai, mas faz isso o mais rápido possível.

Soluções. Tentar fazer várias coisas de uma vez e "para ontem" gera uma grande tensão emocional, porque, na maioria das vezes, não dispomos dos recursos suficientes e/ou necessários. Por mais tarefas que tenhamos, é preciso fazê-las por vez, já que, do contrário, a probabilidade de que saiam bem se torna pequena. É recomendável fazermos uma lista com as tarefas que precisamos cumprir, estabelecendo uma ordem de prioridade e de importância.


9. Tensões acumuladas, uma bomba relógio


Um problema real. Elena se pergunta o que a deixa tão estressada. Não perdeu o emprego nem um pessoa próxima. Não há nada de excepcional em sua vida. Sua tensão nervosa é provocada pela acumulação lenta e contínua de problemas cotidianos menores. O som do despertador, uma dor de cabeça, a televisão dos vizinhos, o atraso do trem, os engarrafamentos, as brigas familiares. Solução eficaz. O melhor é não englobar ou generalizar alguns eventos negativos ou relativamente importantes em uma totalidade e presumir que tudo vai mal (é impossível que tudo vá mal).

É preciso ser realista e qualificar as coisas de acordo com a importância ou gravidade que têm. Pode ser que, durante o dia ou durante o último mês, vários eventos muito negativos tenham acontecido. Mas não devemos dar o mesmo significado a eventos de proporções distintas. Se estivemos duas horas em um engarrafamento, se um pneu furou e ainda perdemos a carteira, podemos pensar que é um dia terrível no qual tudo saiu errado, mas os fatos desagradáveis foram apenas três, e o dia tem muitas horas. Há inúmeros momentos agradáveis que foram desfrutados ao longo do dia (uma boa xícara de café, uma conversa com os colegas de trabalho, o bom tempo). Se fizéssemos uma lista com as coisas agradáveis e boas que nos aconteceram durante o dia e outra com as desagradáveis, e déssemos a cada uma delas pontos por seu grau de importância, nos daríamos conta que foram mais numerosos e mais importantes os momentos positivos.

10. Mudanças contínuas, alerta permanente


Caso real. Ernesto vê a si mesmo como um sobrevivente. A insegurança, os acidentes, os problemas de trânsito e emprego o deixam nervoso. Na sociedade ocorrem cada vez mais mudanças, perigos e dificuldades que fazem ele viver em alerta permanente. Tudo está cada vez mais rápido e é preciso tomar mais decisões em menos tempo. Ernesto duvida de sua capacidade de fazer frente a tantas mudanças. Uma regra eficaz. Se pensamos nas coisas que enfrentamos todos as dias - que vamos assimilando -, não teremos tanto medo com o que ocorrerá. As mudanças trazem a oportunidade de melhorarmos nossas possibilidades e recursos, de aprendermos mais sobre nós.


É preciso saber interpretar essas mudanças como uma alternativa, uma oportunidade para aprender, para mudar algo ou simplesmente para avaliar as coisas que nos aconteceram. As mudanças não só são necessárias mas benéficas para o crescimento pessoal, porque nos trazem a possibilidade de superar-nos.

Ricardo Goncebat



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