PRÓPOLIS



A própolis é uma mistura de diversas resinas vegetais, elaborada pelas abelhas a partir da mistura da cera e da resina coletada das plantas, retirada dos botões florais, gemas e dos cortes nas cascas dos vegetais.

Utilizada pelas abelhas para fechar as frestas e a entrada da colméia, auxilia na proteção desta contra as intempéries. Além disso, devido às suas propriedades bactericidas e fungicidas, é também utilizada na limpeza da colônia e no isolamento de uma parte da colméia ou algum corpo estranho que não pode ser removido da colônia.

Sua composição, cor, odor e propriedades medicinais dependem da espécie de planta disponível para as abelhas. Atualmente, a própolis é usada, principalmente, pelas indústrias de cosméticos e farmacêutica. Cerca de 75% da própolis produzida no Brasil é exportada, sendo o Japão o maior comprador.

Entrevista com o Prof. Dr. Antônio Salatino, Farmacêutico, Mestre e Doutor em Ciências Biológicas pela Universidade de São Paulo, com pós-doutorado pela University of Texas at Austin, pelo Centro de Estudios Farmacológicos y de Princípios Naturales e pela University of Georgia Athens. Atualmente é professor titular da Universidade de São Paulo. Em seu currículo, dentre outros assuntos, constam diversas pesquisas artigos, apresentações em congressos, publicações em jornais e revistas sobre a própolis.

• (Fitoterapia) Encontrei informações de que a qualidade e a composição química da própolis variam de acordo com a região em que é produzida. Já existem estudos que validam indicações terapêuticas específicas para cada tipo? Ou existe um consenso de indicação?

(Salatino) De fato a composição da própolis depende muito da região onde é produzida, embora em região muito amplas, como a Europa e a parte do Brasil que vai do Sul da Bahia, Goiás até o norte do Rio Grande do Sul, se caracterizem por apresentar um tipo predominante de própolis. Na Europa, predomina a própolis derivada de uma árvore do gênero Populus, enquanto a principal própolis brasileira é a “própolis verde”, derivada do alecrim-do-campo (Baccharis dracunculifolia). No entanto, praticamente todos os tipos de própolis são indicados e usados predominantemente para as mesmas finalidades, quais sejam prevenir ou curar problemas causados por infecções, principalmente por bactérias, embora haja evidências de atividade também contra fungos e vírus. O que ocorre é que as substâncias que predominam na composição da própolis, embora quimicamente distintas nas própolis de uma e outra região, são sempre de natureza fenólica e com propriedades anti-sépticas.

• (Fitoterapia) Propriedades cicatrizante, antibiótica, antiinflamatória, antivirótica: quais são as seguras e reais indicações da própolis?

(Salatino) Há evidências experimentais (quase todas, porém, realizadas em ensaios in vitro) para todas essas indicações, além de várias outras. Porém, o maior número de ensaios realizados com própolis de regiões temperadas e com a própolis do Brasil visou testar atividade antibacteriana, ou seja, prevendo o uso de própolis como um antibiótico alternativo aos antibióticos convencionais. Como a própolis tem atividade antibacteriana, segue-se que, independentemente de outras possíveis atividades, o efeito antibiótico por si só já contribuiria para o efeito cicatrizante. Grande parte da população usa extratos de própolis e sente-se protegida contra infecções, principalmente de resfriado, gripe e bronquite. Outras pessoas dizem que encontram alívio rápido de dor e desconforto causados por infecções da garganta e amídalas. Outras sentem alívio de gastrite e desconforto estomacal. Muitos dentistas, principalmente da área de periodontia, são entusiastas do uso da própolis para o tratamento de problemas das gengivas. Outros acreditam que a própolis auxilia na prevenção da formação da placa bacteriana. Por essas informações, percebe-se que grande parte das aplicações indicadas para a própolis relaciona-se a problemas causados por bactérias, situação em que a própolis atuaria como um antibiótico. Até mesmo os problemas de gastrite e úlcera podem ser causados por bactérias Helicobacter pylori.

• (Fitoterapia) Encontrei estudos dizendo que os flavonóides são os verdadeiros ativos da própolis. Em sua composição química, há mais algum componente com ação terapêutica? Sua composição nutricional justifica o uso diário do própolis como preventivo?

(Salatino) Os flavonóides são os principais constituintes ativos da própolis de regiões temperadas, nas quais se cultiva muito espécies de Populus (choupo), em relação às quais as abelhas européias manifestam grande preferência para a coleta de resina para produção de própolis. No entanto, o principal tipo de própolis produzido no Brasil, a própolis verde (como já comentado acima), não possui flavonóides como constituintes principais. No entanto, os fenilpropanóides prenilados que predominam na nossa própolis são igualmente ativos contra microrganismos, além de terem outras atividades farmacológicas comprovadas em testes de laboratório.

• (Fitoterapia) Há um método de extração dos flavonóides. Como seria este método de extração?

(Salatino) Os flavonóides e os fenilpropanóides são substâncias polifenólicas, isto é, apresentem mais de uma hidroxila fenólica em suas moléculas. Essas substâncias são solúveis em álcool ou em solução hidroalcoólica contendo no mínimo 70% de etanol. Grande parte dos extratos vendidos no comércio é preparada com esse tipo de solvente, em geral a frio, deixando o produto em maceração por um tempo prolongado, às vezes durante meses.

• (Fitoterapia) São poucos os produtos disponíveis no mercado à base de própolis, nas farmácias encontramos, em sua maioria, somente sprays para a garganta e balas. A própolis ainda está sub-utilizada no país? Como poderíamos aumentar a utilização da própolis?

(Salatino) Eu diria que o uso da própolis é crescente. Em países como o Japão, o produto é altamente valorizado. O comércio de lá aproveita o prestígio do produto para cobrar preços exorbitantes, algo como 30-50 dólares por um pequeno frasco de extrato alcoólico de própolis. Entre nós, não é difícil encontrar, principalmente em farmácias especializadas em terapias alternativas, extratos alcoólicos de própolis, além das mencionadas balas e sprays. É claro que nas grandes cidades do Brasil há ainda ampla margem para o aumento do consumo de própolis, muito mais do que nos países com maior tradição no uso de produtos naturais, como o Japão, a Alemanha e a França. Na minha opinião, o estímulo para o aumento do consumo deveria partir dos médicos, em vez de recomendarmos a auto-medicação. Com a crescente publicação de resultados demonstrando o efeito da própolis, a adesão que vemos em certos setores da área de saúde, como na odontologia, provavelmente passará para a medicina, algo que acho que já vem ocorrendo, ainda que em menor escala.

• (Fitoterapia) O senhor indica alguma forma “multi-uso” para as pessoas terem a própolis em casa e utilizar em seu dia-a-dia?

(Salatino) Sou de opinião que a melhor forma de utilização diária de própolis é através de gotas de extrato alcoólico, diluídas em meio copo de água. Mas para ter efeito positivo, é importante que as pessoas acreditem na eficácia do produto, não se importem com o aroma e sabor resinoso desagradável e sintam-se bem com o seu uso. A aplicação desse extrato é como preventivo às infecções por vírus e bactérias a que todos estamos sujeitos. Não acredito que haja qualquer contra-indicação a esse uso, a não ser para as raras pessoas que manifestam alergia a produtos derivados de própolis.


Dr.: Antônio Salatino

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