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José Padilha tinha várias armadilhas a evitar quando decidiu filmar a continuação de ‘Tropa de Elite’, por exemplo: simplesmente repetir uma fórmula de sucesso, ou ceder à pressão patrulheira dos que classificaram o primeiro filme como “fascista” (revelando uma total incompreensão do que é o fascismo e, pior ainda, do que é o cinema). Ele não apenas escapou de todas elas como foi ainda mais fundo no retrato realista e duro da realidade social do Rio de Janeiro, esgarçada pela violência e pela corrupção em suas variadas formas. ‘Tropa de Elite 2 – Agora o inimigo é outro’ é um tapa na cara do espectador.

Padilha não tenta se reconciliar com ninguém, nem cede à tentação do caminho já percorrido. Com um roteiro muito mais ambicioso e cheio de nuances que o do filme original, ‘Tropa 2′ acompanha o Tenente-Coronel Nascimento anos após suas batalhas contra o tráfico. Forçado a deixar o comendo do BOPE após uma rebelião num presídio, ele assume a Subsecretaria de Segurança do Estado, onde encontra desafios ainda maiores – ao mesmo tempo em que, separado, sofre ao lidar com a ex-mulher e o filho adolescente. Mais uma vez com uma atuação impecável, Wagner Moura transmite com economia os conflitos de um homem duplamente desorientado: no papel de pai e ex-marido e no papel de alguém determinado a enfrentar uma estrutura de poder viciada, sem sequer entender a sua complexidade e abrangência.

‘Tropa de Elite 2′ é cinema da melhor qualidade, com um ponto de vista narrativo bem definido e personagens ricos e bem desenhados. Mas é, também, um filme político, capaz de provocar um verdadeiro impacto no espectador. Poucas vezes o cinema brasileiro mostrou de forma tão clara a realidade do país. E, a julgar pelas imagens finais, José Padilha pode estar planejando mais chumbo grosso pela frente.



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