A longevidade impõe mudanças

Por Maria Amélia Ximenes,

Diretamente para o Portal

Com o fenômeno da longevidade, mudanças no perfil da população mundial e novas discussões ocorrem, com o objetivo de adequação e entendimento dessa realidade que, um dia será pertencente a cada um de nós, caso não seremos levados antes.

Percebe-se que estas mudanças vão ocorrendo e não se tem explicado e conscientizado a população que são conseqüências desse envelhecer. É fato que os humanos se adaptam a realidade que vive e criam alternativas para se defenderem ou tirarem proveito em benefício próprio desta realidade. Assim tem acontecido também com o envelhecimento da população, afinal vivemos num mundo capitalista onde as ações feitas têm endereço certo.

Falo por exemplo da reinserção de idosos no mercado de trabalho. Por que será que se tem falado tanto neste assunto? Um dos motivos eu acredito, seja por preconceito. Sim, pois ainda se tem olhado a velhice como a fase da decrepitude e o idoso como um ser aposentado, gozando de um ócio bem merecido.

Pessoas idosas que ainda trabalham não deveriam ser objeto de curiosidade. Isso sempre existiu, já que determinadas profissões parecem que não estão sujeitas a aposentadoria, como os atores, escritores, jornalistas, professores, cantores, padres, políticos, dentre outras. Estes profissionais não são vistos como idosos quando os são, e, quando falam dos idosos não se incluem (velho é o outro), como é o caso dos políticos. A grande maioria é idosa, mas nem sequer se comenta este fato, nem a mídia pontua.

Na nossa sociedade, velho é o pobre. A velhice parece não atingir ricos e famosos. Ações que venham beneficiar a categoria idosa não dizem respeito a estes. Talvez, com o passar dos tempos, quando o preconceito cair por terra e estes últimos enfim se assumirem idosos, tenhamos uma sociedade mais inclusiva, adequada a necessidade de todos, já que estes utilizarão a sua força e prestígio em prol de sua própria categoria.

Sabemos hoje em dia que, cada vez mais, o idoso está inserido no mercado de trabalho, seja por necessidade financeira ou por realização profissional e pessoal. A novidade é que o número de idosos que trabalham está aumentando.

As pesquisas revelam que o grande segredo para se continuar na ativa é a formação com atualização somada à experiência adquirida.

Dessa forma, o que os governos deveriam fazer já, é investir na educação e formação dos jovens, assim haverá espaço para todos no mercado de trabalho. Isso garantiria ao jovem formação, garantindo uma velhice com maior qualidade e dignidade. Deixaríamos de reclamar que o idoso está ocupando o lugar do jovem ou que não há vagas para o idoso que precisa trabalhar. O governo investiria numa velhice com futuro. Outra sugestão seria implantar ações que contemplem a saúde do trabalhador idoso. Infelizmente ainda não se pensa em investir no velho, somente no jovem, como se este não envelhecesse.

Não estou dizendo que o velho tem que continuar trabalhando. Claro que as velhices não são iguais, mas sabe-se que em breve a idade para a aposentadoria, como está acontecendo na Europa (aumentou para 67 anos,) fatalmente irá aumentar no Brasil, já que a velhice está sendo empurrada para mais tarde.

Estes fatos nos levam a crer, que no futuro, se nada for feito, o Brasil será um país de velhos, com pessoas com até 66 anos trabalhando e, ainda uma maioria de aposentados que terá que continuar na ativa, com uma minoria jovem com grande parte desta, sem formação (principalmente os que hoje estão em escolas públicas). Se nada se fizer pelo ensino público, este será o retrato do futuro. Conseqüentemente quem segurará a onda serão aqueles idosos que investiram em sua formação profissional ao longo de sua carreira e os jovens que investiram de forma privada na sua formação. Paralelamente teremos os idosos sem formação que precisam trabalhar para completar a renda ou esperar a idade de aposentar, sem possibilidade de inserção no mercado de trabalho.

Outro assunto neste mês desta vez favorecido pelo fenômeno da longevidade foi o ramo de seguros e previdência privada que começou a se adequar a realidade brasileira. Isto se deve a uma nova tábua atuarial que está em uso, desta vez baseada nos números da longevidade do país, pois a que era utilizada anteriormente baseava-se em números americanos, o que encarecia os planos vendidos no Brasil.

Neste sentido o setor de seguros está eufórico, pois acreditam numa expansão dos seguros massificados já que a projeção de crescimento do PIB em 2010 é de 6%, podendo configurar na terceira maior taxa de crescimento econômico do mundo. Como o mercado de seguros cresceu 12% em plena crise mundial, eles mantêm um prognóstico que apontam um crescimento de 20%.

Acreditam que essa expansão se deva a partir do aumento do poder de consumo da família brasileira e, principalmente, pela maioria das pessoas com mais de 60 anos ser produtiva, trabalhar, viajar e consumir. Pensando nestes, o setor de seguros desenvolve produtos, agregados ao seguro de vida e direcionados ao amparo e a assistência. Sugerem como agregados: segunda opinião médica, auxílio nutricional, personal assistant para viagens e outros.

É a indústria da velhice entrando com força no país. Por outro lado, em contradição, a mídia colocou que o seguro de vida não está privilegiando idosos. Explica que para ter uma família assegurada é melhor morrer aos 70 anos, porém, caso isso possa ocorrer após esta idade, o idoso poderá deixar a sua família em má situação, sem direito a nada, já que o seguro é válido somente por determinado período.

Temos então duas situações diferentes: uma inteiramente nova que junto ao seguro é acrescentado serviços, adequada ao momento atual cuja expectativa de vida é em média de 73 anos e, outra que, apesar de ser notícia recente é a conseqüência de décadas passadas onde a expectativa de vida era inferior a 70 anos.

Reinserção de idosos no mercado de trabalho e adequação dos seguros e dos planos de previdência privada são reflexos do crescimento do número de idosos e de uma vida longeva, graças aos avanços da medicina e a melhoria da qualidade de vida das pessoas.

Muitas adequações e mudanças ainda serão feitas conforme exigências do mercado e, principalmente impostas pelos próprios beneficiários, os idosos. É o que se espera para um futuro próximo: idosos autônomos, conscientes de seu momento de vida e participantes ativos da sociedade. Não, ao movimento melhor idade. Mas a idade que pode ser melhor ou pior como qualquer outra, mas que seja vivida da melhor forma possível, beneficiada por uma sociedade pensada para todos e agraciada de respeito e dignidade aos nossos velhos. Esta é a conquista esperada.

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