Conceito amplo do encontro amoroso

O conceito de atividade sexual empregada em nossa sociedade, normalmente, é voltado para uma orientação primitiva, no qual se acredita que o foco mais importante seja a genitália.

No entanto, ampliando-se este conceito, verifica-se o trabalho de Risman (1995), onde o autor relaciona atitudes e comportamentos de grande sensualidade e sexualidade que foram, de certa forma, banidos do cotidiano do ser humano pelo chamado “desenvolvimento” de nossa sociedade.

As décadas passadas foram categorizadas como épocas de grande repressão sexual, onde a expressão e atitudes, em relação ao desejo sexual, não eram incentivadas; entretanto, através dos mecanismos utilizados pelos indivíduos que viveram nessas épocas, os idosos de hoje puderam desenvolver fatores importantes nos seus comportamentos sexuais, que foram: os fantasmas sexuais, a valorização do toque, a sensibilidade, o olhar, entre outros.

Parece difícil imaginar que os idosos que vivem atualmente tiveram esta oportunidade; porém, através de exemplos dados por Risman (1995), esta questão poderá ser verificada.

Os anos 40, 50 e 60 foram os anos dos grandes bailes de formatura dos colégios, protótipo da classe média e considerada clássicos da nossa educação, como o Instituto de Educação do Estado do Rio de Janeiro e o Colégio Militar do Rio de Janeiro.

Nestes bailes, os jovens não podiam comparecer sem estarem bem vestidos, ou seja, era necessária uma produção no vestuário masculino e no feminino.

Os rapazes vestiam terno e gravata, sapatos brilhando e usavam gomalina no cabelo; tudo para poder impressionar a moça que eles iriam escolher para dançar ao som da música orquestrada.

A produção feminina era mais apurada, não podia faltar o vestido rodado com seus babados e bordados, seus sapatos combinando com o vestido e bolsa, o cabelo arrumado e maquilagem suave. Todos esses preparativos faziam parte do processo de sedução para atrair a atenção de algum rapaz no baile, criando, muitas vezes, uma expectativa para a realização de um desejo, ou seja, de um encontro amoroso.

Nos bailes de formatura, as moças ficavam em seus grupos, utilizando um aspecto importante que era “olhar” para aquele que possivelmente seria o seu escolhido, mesmo existindo a questão de que era o rapaz quem teria de se aproximar da moça, a fim de convidá-la para dançar. Este exercício da sexualidade foi demonstrado claramente, através do seriado, exibido pela Rede Globo de televisão, chamado “Anos Dourados”.

Numa das cenas, o rapaz, ao observar a moça e incentivado pela troca de olhares, convida-a para dançar. Enquanto a música toca, os dois vãos se aproximando. Ao unirem-se, todos os aspectos são focalizados e valorizados: o toque das mãos, a união das faces e uma bela atmosfera de sensualidade no bailar dos corpos. Como se o tempo não passasse, ele dançam a noite inteira.

O relato desse clima, ocorrido num baile dos anos 50, revela as teorias de Montagu (1988), e Demailly (1990), que acentiram que a sexualidade tem a sua linguagem, e esta é, fundamentalmente, não verbal.

A comunicação não verbal foi muito utilizada nos anos de juventude dos indivíduos que constituem o grupo de idosos de hoje. Este fato é verificado por Risman (1995) que salienta que, naquele tempo, qualquer movimento da mulher, como, por exemplo, subir no bonde, subir uma escada ou o olhar do homem, de forma mais objetiva para, o seu “decote discreto”, já era o bastante para imaginar ou criar fantasias sexuais.

Diante de alguns itens mencionados neste texto, pode-se observar que o exercício da sexualidade, nas décadas anteriores, incorporava a jogos de sedução e sensualidade, isto é, quando se acredita que o toque, a fantasia, o mistério, a dança, o olhar, a música, o perfume, entre outros, fazem parte do conceito amplo de sexualidade.

Estes tipos de exercícios da sexualidade são valorizados, atualmente, por Cavalcanti (1994), em seu trabalho com pacientes idosos, afirmando que:

“A beleza e a primazia da união total é sempre excelente. O que pretendemos acrescentar, e é o que temos feito a nossos pacientes, é despertá-los para a não fixação em uma única forma de prazer. Se não há condições para uma boa genitalidade semanal, que ela seja quinzenal, mensal, ou até mais ... Contudo, existirão sempre alternativas diárias para o toque, as carícias, massagens ou relaxantes, jantares juntos, perfumes ou músicas curtidos num clima de amor e carinho.” (pág. 140)

Não se nega por completo a importância da atração física ou a questão da importância do prazer através dos genitais como afirmam Margolin e Whitel (1987); no entanto, os idosos possuem a possibilidade de exercitar a sua sexualidade, utilizando também essas atitudes e sensações que foram desenvolvidas em sua juventude. Dessa forma, o conceito primário de sexualidade, que é voltado à genitália, cede lugar para a percepção do indivíduo como um todo, possuidor de fontes prazerosas que devem também fazer parte do encontro de dois corpos que se unem em qualquer idade da existência do em nome da equidade de gênero, não seria interessante substituir a palavra homem por “ser humano”.

Pode-se concluir que o encontro sexual envolve uma verdadeira magia. Sendo esta magia intimamente ligada à união de corpos e às sensações que este encontro proporciona, pois através de beijos, carinho se cria um clima propício, o casal poderá chegar a um estado sublime de desejo e realização independentemente da idade.

Diante das descrições contidas neste capítulo sobre diversas questões - dos preconceitos sexuais, a importância da informação a respeito das mudanças que ocorrem no ciclo de resposta sexual, o idoso frente às mudanças sexuais e diante do conceito da sexualidade, - verifica-se que o comportamento sexual poderia fazer-se presente sem muitos problemas. Para que isto ocorra, no entanto, é necessário que a sociedade possa realmente refletir sobre as suas próprias dificuldades em relação ao tema da sexualidade.

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